Tudo na natureza está sujeito a um ritmo.
Pense nas estações do ano, por exemplo, ou na alternância do dia e da noite. Este ritmo é parte da natureza e nós o percebemos, como evidente. O desenrolar natural da vida só é possível, graças aos ritmos. Sem a noite, nossa Terra se aqueceria e se transformaria em um deserto fervente e sem vida, e sem o dia, ela congelaria. Ambos são necessários para a evolução e o crescimento da vida.
Menos evidente é o fato de descobrirmos que nossa vida interior também está sujeita a um ritmo. Lá, a alternância de luz e escuridão também pode ser encontrada. Os períodos de luz, nos quais tudo corre bem, são alternados com períodos difíceis de medo, raiva, desespero e dúvida. Ainda assim, esses períodos também servem ao seu propósito. Assim como toda a vida na Terra está se desenvolvendo, devido à alternância de luz e escuridão, nós, como seres humanos, também crescemos devido à variação rítmica. Períodos especialmente difíceis, em retrospecto, muitas vezes se revelam momentos muito instrutivos que trazem crescimento e aprofundamento interior.
Entretanto, às vezes o equilíbrio parece se perder. A escuridão começa a dominar e perdemos nossa conexão com a luz; não podemos imaginar que ela voltará algum dia. A noite não se torna mais dia; a escuridão parece ser permanente. O ritmo natural da vida é interrompido e não há mais ritmo, não há mais crescimento, apenas estagnação.
Por que isso acontece? Por que, às vezes, não seguimos o ritmo natural da vida e ficamos presos na fase escura?
Neste artigo, quero demonstrar que essa sensação de estar preso na escuridão geralmente é causada por uma maneira errada de pensar; que, ao pensar com base no medo, prolongamos artificialmente a escuridão em nossa vida. Também quero mostrar o que podemos fazer a respeito disso, como podemos nos ensinar a pensar a partir do amor. Pensar a partir do amor é a maneira natural de pensar, está alinhado com o ritmo da vida e estimula o crescimento interior.
NOSSO PENSAMENTO
Temos muitas ideias e opiniões sobre o mundo ao nosso redor, e muitas delas não vêm de nós mesmos, mas nos são transmitidas pelo mundo ao nosso redor: pelos jornais, pela televisão, pela Internet e por todas as pessoas que encontramos e que, muitas vezes, estão prontas para expressar sua opinião sobre algo.
Nosso pensamento sempre começa com suposições sobre o mundo ao nosso redor. Isso é comparável à matemática, que começa com a suposição de uma série de axiomas: princípios que não podem ser provados. A partir daí, você usa a razão. Você pode, por exemplo, presumir que a distância mais curta entre dois pontos é uma linha reta, o que leva à geometria tradicional. Se você presumir que esse não é o caso, surge uma forma diferente de geometria que é útil: a geometria não euclidiana, que acaba sendo muito aplicável na astronomia moderna.
Nosso pensamento é exatamente como a matemática. Se você analisar adequadamente a origem das opiniões das pessoas, verá que elas se baseiam em várias suposições que são consideradas verdadeiras. De modo geral, uma ideia sempre pode ser relacionada ao medo ou ao amor.
PENSANDO A PARTIR DO MEDO
Pensar com base no medo sempre leva a uma visão dualista da realidade. Uma coisa ou situação é boa, a outra é ruim, e temos de estar atentos à coisa ou situação ruim. Essa visão da realidade torna nosso mundo inseguro.
Digamos que nos sentimos ameaçados por um determinado grupo de pessoas, então começamos a pensar nelas com base no medo. Nosso pensamento tende a enfatizar as diferenças: eles têm uma religião diferente, outros padrões e valores. E eles querem nos impor seus padrões e valores, portanto, são perigosos. Essa forma de pensar leva a uma crença na dualidade, que apenas confirma e amplia o medo original.
E o que acontece dentro de nós como resultado dessa forma de pensar? O medo original e irracional está sendo transformado em uma visão de mundo definida. Com a ajuda do nosso pensamento, é construída uma imensa estrutura de pensamentos, significados e “fatos” que criam uma moradia permanente para o medo. Essa estrutura começa a funcionar em nós como uma espécie de filtro por meio do qual percebemos a realidade: tudo o que é congruente com esse medo nós percebemos ampliado, e o resto não vemos mais.
Pensar dessa forma faz com que nosso mundo interior se encha de “castelos de pensamento”. E por causa desses castelos de pensamento, torna-se quase impossível reconhecer o medo original que forma a base da construção. Esse medo está escondido atrás de uma “alvenaria” de opiniões e conceitos que o validam e apoiam. Entretanto, os verdadeiros habitantes da estrutura são o medo e a raiva. Onde quer que haja esse castelo, a energia não está mais fluindo; a luz e a vida desaparecem de nosso mundo interior. Irradiamos inflexibilidade e preconceito, e nosso desenvolvimento interior fica estagnado.
Um exemplo tangível pode esclarecer isso. Suponhamos que uma mulher tenha um certo medo de homens. A partir desse medo, ela vai pensar, perceber e interpretar o comportamento dos homens. Ela então conclui que os homens não são confiáveis, são dominadores, violentos e superficiais. Essa forma de pensar não só influencia seu relacionamento com os homens, mas também a leva a suprimir seu próprio lado masculino. Ela não reconhece os aspectos positivos da energia masculina, como a determinação, a defesa de si mesma e o propósito. Pensar dessa forma prejudica sua própria capacidade de se defender e de estabelecer limites propositalmente. Suas qualidades femininas de empatia e sensibilidade podem ficar “superdesenvolvidas”, o que pode enfraquecê-la e exauri-la. A consequência disso é que ela sentirá o mundo ao seu redor como ainda mais masculino e hostil. Seus medos começarão a dominá-la ainda mais.
É assim que pensar a partir do medo leva a uma espiral negativa que se sustenta: começamos a pensar a partir do medo e, em seguida, esse pensamento leva a uma visão dualista explícita das coisas. Cria-se uma visão de mundo, um “castelo de pensamento”, que esconde o medo original e dificulta enfrentá-lo com honestidade e amor. Pensar com base no medo bloqueia o fluxo natural de energia e suprime algo dentro de nós. Eventualmente, essa visão de mundo dualista se reflete em nós mesmos e reforça o medo.
PENSANDO A PARTIR DO AMOR
Quando começarmos a pensar com base no amor, nos daremos conta da unidade interna de todas as coisas. Quando olhamos para pessoas de culturas diferentes com amor, por exemplo, não vemos mais as diferenças, mas principalmente os pontos em comum. Percebemos que essas pessoas também anseiam por uma família feliz e um bom emprego. Elas também querem o melhor para seus filhos e uma existência harmoniosa com os outros. As diferenças são apenas externas.
Opiniões fortes e francas geralmente enfatizam uma certa dualidade: isso é bom, aquilo não é. trás dessas opiniões, esconde-se o medo. As opiniões que são expressas a partir do amor são muito mais suaves e sutis. Elas sempre demonstram compreensão pelo que é diferente e enfatizam a unidade interna e a conexão que existe. Em um nível profundo, o universo é um só; em um nível profundo, a humanidade é uma só.
Em vez de construir castelos de pensamento para nossos medos, podemos concentrar nossa atenção neles. Podemos usar nosso pensamento para olhar através da alvenaria, derrubar as paredes e enfrentar o medo de frente. Os medos são como crianças que não tiveram amor. Essas crianças não querem “castelos” para se proteger, elas anseiam por calor, amor e reconhecimento. Elas querem ser vistas e anseiam por luz.
O amor é o poder que conecta o excluído com a unidade.
Nosso mundo interior não está separado do mundo exterior, tudo faz parte da mesma unidade. Ao pensar com amor nos outros, o amor flui para eles. Eles são tocados por ele e isso pode influenciá-los e mudá-los. A compreensão da unidade interna de tudo reside profundamente em cada criatura viva. Ao irradiar amor, você toca esse conhecimento e o ativa. O amor dissolve a dualidade, tanto em seu mundo interior quanto em seu mundo exterior.
Essa é a razão pela qual Cristo diz: “Ame seus inimigos”. Pois o amor transforma seus inimigos em amigos. Isso vale tanto para os inimigos externos quanto para os inimigos internos: o medo e a raiva.
APRENDENDO A PENSAR A PARTIR DO AMOR: DICAS PRÁTICAS
A mudança de pensar a partir do medo para pensar a partir do amor não é fácil, porque o medo sempre tem a tendência de voltar sua atenção para fora: para o objeto de nosso medo.
Digamos que temos medo de uma aranha, então concentramos toda a nossa atenção na aranha, que está fora de nós, e não no medo em si. Em vez de nos acalmarmos com nosso medo, concentramos nosso poder de pensamento na questão de como podemos destruir a aranha, como podemos evitar que mais aranhas entrem em nossa casa no futuro etc.
As coisas ficam ainda mais difíceis se tivermos construído um castelo de pensamentos em torno do nosso medo, o que torna quase impossível senti-lo, porque ele está escondido atrás de paredes de opiniões e ideias.
Abaixo está um plano de ação que pode ajudá-lo.
- Esteja preparado para enfrentar honestamente seus medos. Esteja disposto a aceitar que, por trás de muitas de suas opiniões e ideias, há medo e/ou raiva. Essa é uma etapa muito difícil. Faça a si mesmo a seguinte pergunta: “Será que muitas de minhas noções, que durante anos proclamei com certeza absoluta, são baseadas no medo e na raiva, e não no amor?” Encontrar a coragem para descobrir uma resposta honesta a essa pergunta é o primeiro e maior passo.
- Se estiver preparado para fazer o que foi dito acima, encontre um momento de silêncio e concentre sua atenção em seu interior. Tente sentir seu medo. Dirija sua atenção para o abdômen, onde as emoções negativas geralmente se escondem, e diga: “Venha para fora, você tem permissão para estar aqui”. Fique em silêncio e imagine que crianças assustadas ou com raiva vêm lentamente da escuridão em sua direção. Deixe o amor fluir em sua direção e dê-lhes as boas-vindas.
- Pense em opiniões e ideias às quais você adere com certa veemência; elas podem ser sobre o mundo, sobre as pessoas ao seu redor, sobre seu relacionamento – o que quer que seja. Agora imagine que outra pessoa está proclamando essa mesma opinião para você. E não preste tanta atenção ao que ela diz, mas ao que ela está emanando. É amor ou outra coisa? A energia flui de seu coração ou vem de outro lugar? E se for algo diferente de amor, o que é?
Examine isso e também observe atentamente a pessoa que você escolheu para expressar sua opinião. Quem é essa pessoa e por que você a escolheu? Essa escolha também tem um significado. É claro que você também pode fazer esse exercício com você expressando a opinião e observar a si mesmo à distância. O que você está irradiando?
Repetindo as etapas acima regularmente, podemos dissolver gradualmente os bloqueios internos que perturbam o ritmo natural de nossa vida, os castelos de pensamento. Um castelo de pensamentos funciona como uma represa, que bloqueia o fluxo natural do rio de nossa vida. Se eliminarmos a represa, a vida e a luz poderão fluir novamente.
Os períodos de escuridão fazem parte da vida, e o fluxo da vida nos leva de volta à luz por si só. Mas para podermos seguir esse fluxo, precisamos estar dispostos a enfrentar a escuridão em nós mesmos, de forma honesta e amorosa. Esse é o poder de pensar a partir do amor.
Canal/Autor: Gerrit Gielen
Fonte primária: https://www.jeshua.net/
Fonte secundária: https://eraoflight.com/2024/02/17/love-centered-thinking-a-path-to-transformation/
Tradução: Sementes das Estrelas / Paula Divino