Acolhendo a quietude: o poder do desapego

Acolhendo a quietude: o poder do desapego

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Vivemos em uma época em que somos constantemente incentivados a consertar, melhorar e diligenciar.

Agir é equiparado a progredir e, em muitos casos, isso é verdade: trabalho árduo e iniciativa costumam levar ao sucesso. Porém, há momentos em que o melhor a se fazer é não fazer nada, ficar quieto e ver o que acontece.

Esta ideia – a de ficar quieto – parece contraditória. Não fazer nada certamente significa que nossos objetivos não darão certo. Que falharemos.

A habilidade está em saber quando não fazer nada e por quê. Pode ser que, nos momentos em que escolhemos ficar quietos, temos os melhores insights e as circunstâncias progridem.

Porque a verdade é que talvez você não precise consertar tudo; às vezes, consertar atrapalha.

A cultura do consertar

Desde cedo, somos ensinados a resolver problemas. A educação enfatiza o pensamento crítico e as habilidades de resolução de problemas, e o mundo profissional recompensa aqueles que conseguem identificar e corrigir problemas rapidamente.

Essa mentalidade é extremamente valiosa! Mas, e esse é um grande “Mas”… também pode ser exaustiva e contraproducente, principalmente quando aplicada indiscriminadamente a todos os aspectos de nossas vidas.

Por exemplo, em nossas vidas pessoais, o desejo de consertar pode se manifestar de várias maneiras – tentando melhorar constantemente os relacionamentos, buscando incessantemente o autoaperfeiçoamento ou nos esforçando incansavelmente para alcançar nossos objetivos. Embora estes esforços sejam, obviamente, nobres, eles também podem levar ao esgotamento, ansiedade e a um sentimento perpétuo de inadequação.

Existe uma sabedoria antiga na prática da quietude. As tradições espirituais, do Budismo ao Tao e ao Estoicismo, defendem a força de estar presente e permitir que as coisas aconteçam naturalmente. Isso não significa ser passivo ou apático. Pelo contrário, trata-se de reconhecer que nem todas as situações requerem a nossa intervenção.

A chave é fazer da quietude uma ação, uma escolha consciente de abandonar a necessidade de consertar ou controlar. Quando isso é feito, benefícios naturais se revelam. Aqui estão alguns:

  1. Clareza e perspectiva

Quando damos um passo para trás e nos permitimos ficar quietos, ganhamos clareza e perspectiva. Quando as coisas na vida parecem estar caóticas, é fácil ficar sobrecarregado e perder de vista o que é realmente importante. Quando fazemos uma pausa, criamos espaço para refletir e observar, o que muitas vezes leva a insights que certamente não surgiriam no calor do momento.

O que evolui naturalmente a partir disso é algo como uma ação – pausar e ficar quieto – ação – pausar e ficar quieto – ação… etc.

  1. Resolução natural

Alguns problemas se resolvem sozinhos, sem a nossa interferência, e tentar consertar só atrapalha. Os relacionamentos, por exemplo, muitas vezes se beneficiam de um período para se acalmar, em vez do confronto imediato. Ao dar aos outros – e a nós mesmos – espaço para processar as emoções e pensamentos, os conflitos por vezes se dissolvem naturalmente.

  1. Conservação de energia

Acho que a maioria de nós concorda que tentar consertar tudo o tempo todo é desgastante. Ao escolher seletivamente quando agir e quando ficar quietos, podemos concentrar nossos esforços naquilo que terá o impacto mais significativo.

Passos práticos para acolher a quietude

Então como acolhemos a quietude? Principalmente quando nos foi ensinado o mantra “Agir! Agir! Agir!”. A verdade é que é preciso prática e intenção.

Temos que ter claro em nossas mentes por que devemos ficar quietos. Temos que decidir que não fazer nada pode ser a melhor das ações, e que ficar quieto pode levar a insights e soluções profundos e importantes. E pode recarregar nossas baterias.

Aqui estão alguns passos práticos para ajudar a integrar essa abordagem em sua vida:

  1. Meditação mindfullness (atenção plena)

Incorpore a meditação mindfullness em sua rotina diária. Mesmo alguns minutos por dia podem ajudar a cultivar uma sensação de calma interior e presença quando a agitação da vida estiver acontecendo ao seu redor e em sua vida.

A atenção plena nos ensina a observar nossos pensamentos e sentimentos sem reagir imediatamente. É uma habilidade extremamente útil que desenvolve presença de espírito, força e foco para permanecer imóvel em situações desafiadoras.

  1. Estabelecer limites

Aprenda a estabelecer limites para seu tempo e energia. Apesar da urgência, nem todo problema requer sua atenção imediata e nem todo problema pode ser resolvido por você. Priorize o que realmente importa (incluindo sua saúde mental!) e permita-se soltar o resto.

  1. Pratique a aceitação

Aceitação não significa resignação ou desistência. Trata-se de reconhecer a realidade como ela é no momento. Isso interrompe o desejo de agir e cria uma pausa momentânea. Mas é o suficiente, porque a aceitação é uma escolha consciente.

Ao aceitar as situações, pessoas e a nós mesmos, reduzimos o desejo de mudar e controlar tudo constantemente. Permitimos o fluxo natural das coisas.

  1. Reflita e escreva

Reserve um tempo para refletir sobre suas experiências e escreva seus pensamentos. Isso ajuda a reforçar a importância e a força da quietude. E cria um registro no qual podemos ver como as situações evoluem ao longo do tempo, mostrando-nos que, muitas vezes, os problemas se resolveram sozinhos, sem a nossa intervenção.

Escrever também pode ser uma ferramenta poderosa para processar emoções e obter mais insights.

E para onde vamos a partir disso?

A prática da quietude é um ato radical de autocuidado e sabedoria, principalmente porque o mundo parece tão obcecado em consertar e melhorar.

Mas, ao nos permitirmos ficar quietos e ver o que acontece, acessamos uma compreensão mais aprofundada dos ritmos e resoluções naturais da vida. Aprendemos que nem todo problema exige a nossa intervenção e que, às vezes, a melhor ação é a não-ação, apenas estar presente e confiar no processo.

A chave para tudo isso é o equilíbrio. Algumas coisas exigem ação e outras funcionam melhor quando as consertamos. Mas aplicar esta noção a tudo é onde nos deparamos com problemas. Trata-se de escolher quando agir e quando ficar quieto e deixar as coisas acontecerem.

E isso depende da situação e depende de você. Quando aprendemos a habilidade da quietude e o poder do desapego, naturalmente percebemos que não precisamos prestar atenção a tudo o tempo todo.

E há uma grande liberdade nisso. Portanto, acolha o poder da quietude e descubra a paz e clareza profundas que ela pode trazer à sua vida.

Autor: David R. Hamilton
Fonte: https://drdavidhamilton.com/

Fonte secundária: https://eraoflight.com/
Tradução: Sementes das Estrelas / Mariana Spinosa

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