Os nossos problemas fundamentais são a ignorância e o agarrar do ego. Agarramo-nos à nossa identidade, enquanto uma personalidade, memórias, opiniões, julgamentos, esperanças, medos, conversa fiada —tudo gira à volta deste eu, eu, eu, eu. E acreditamos que esse eu é realmente uma entidade sólida e imutável que nos separa de todas as outras entidades lá fora. Isto cria a ideia de um eu permanente e imutável no centro do nosso ser, que temos de satisfazer e proteger. Isto é uma ilusão.
“Quem sou eu?”, esta é a questão central do Budismo. Está a ver? Geralmente o que fazemos é tentar proteger este falso eu, o meu, o mim. Pensamos que o ego é o nosso melhor amigo. Não é. Não tem interesse se estamos felizes ou infelizes. Na verdade, o ego fica muito feliz por estar infeliz. E temos de estar conscientes para não usar o caminho espiritual como outro canal para o ego — um maior, melhor, mais espiritual eu. Há práticas que podemos usar contra esta adulação do ego.Na companhia de pessoas muito doentes que estão sofrendo, podemos visualizar-nos a tomar a sua dor e sofrimento, sob a forma de uma luz ou nuvem escura, retirando a doença e karma negativos, e dirigindo-os para a pequena pérola negra do nosso egocentrismo. E começará a desaparecer, porque, realmente, a última coisa que o ego quer, são os problemas dos outros. Se nós próprios sentimos dor e sofrimento, podemos usá-lo. Estamos condicionados a resistir à dor. Pensamos nela como um bloco sólido que temos de empurrar, mas não é. É como uma melodia, que por trás existe um espaço imenso. Não estamos presos à roda da vida. Nós é que a agarramos com força, com as duas mãos.
Há uma história que sempre se conta sobre uma forma particular de aprisionar macacos na Índia. Toma-se um coco com um pequeno buraco. Por esse buraco, com tamanho suficiente para passar apenas a mão do macaco, coloca-se um pedaço de doce de coco. O macaco aproxima-se, sente o cheiro do doce, coloca a mão no buraco e agarra o doce. Ele fecha a mão para agarrar o doce. e dessa forma não consegue mais tirar a mão do coco. E então o caçador consegue capturar. Nada prende o macaco ali. Tudo o que ele precisava fazer era abrir a mão e estaria livre para fugir. Ele fica ali preso apenas por desejo e apego, que não o permitem seguir. É dessa forma que a nossa mente funciona. O problema não é o doce de coco. O problema é que não conseguimos soltar. Entendem? O problema não é o que temos ou o que não temos, mas o quanto nos agarramos às coisas.
Fonte: https://portaldobudismo.com/