Todos esses habitantes conhecem a principal narrativa das últimas quatro décadas: “Os cylons (Cybernetic Life Form Node / Nódulo de Forma de Vida Cibernética) foram criados pelo homem para facilitar a vida nas doze colônias. Até que decidiram matar seus mestres. Após longa e sangrenta batalha, declarou-se um armistício. Os cylons mudaram-se para outro mundo, só deles. Construiu-se uma estação espacial remota onde cylons e colonos poderiam se reunir e manter relações diplomáticas. Todo ano, os colonos enviam um oficial. Os cylons não mandam ninguém. Há quarenta anos, não se ouve falar dos cylons”. Independente de idade, gênero, raça ou planeta, todos conhecem muito bem quem é seu inimigo: as “máquinas assassinas”.
A nave Battlestar Galactica teve seus dias de glória há muitos anos e agora, sem a tecnologia presente nas naves mais modernas de seu tipo, ela está prestes a virar um museu. Seu comandante, William Adama, faz um belo discurso quando chega a hora de se despedir de sua nave e daqueles que trabalhou junto durante muitos anos. Parece coincidência que ele resolveu sair de seu discurso escrito e se referir aos cylons em uma fala recém inventada, mas essa jornada está cheia de “coincidências”.
Ele diz: “Nós recusamos a aceitar a responsabilidade por qualquer coisa que fizemos, como fizemos com os cylons. Nós decidimos brincar de Deus, criar vida. E quando essa vida se virou contra nós, nos confortamos no conhecimento de que não era realmente nossa culpa, não realmente. Você não pode brincar de Deus e depois lavar suas mãos das coisas que criou. Mais cedo ou mais tarde, chega o dia em que você não pode mais se esconder das coisas que você fez”.
Não muito tempo depois de ter concluído a cerimônia de encerramento das atividades da Galactica, percebeu-se que um ataque massivo estava acontecendo. Os cylons voltaram para casa, e trouxeram consigo muitas bombas nucleares. As doze colônias foram destruídas com o bombardeamento, e os novos alvos viraram aqueles que permaneciam vivos dentro de naves em órbita. A Galactica era a única nave combatente que restava, pois todas as outras foram afetadas por um vírus que se fundiu com sua tecnologia avançada e as inutilizou. Apenas algumas outras naves civis conseguiram escapar desse ataque cylon. Elas se juntaram com a Galactica e fizeram um salto pela galáxia para fugir de seus inimigos.
Tudo que resta da raça humana são 50.000 pessoas, e eles pretendem procurar um planeta lendário descrito nos pergaminhos sagrados como “Terra” para tê-lo como sua nova casa. Os cylons, no entanto, temem que a “natureza humana” possa se virar contra eles novamente no futuro, e decidem perseguir os sobreviventes para terminarem o trabalho que começaram. Os colonos são, em suas opiniões, uma criação falha e perigosa, e por isso devem exterminá-los. É nesse embate que nos encontraremos nos próximos anos. E é nesse embate que iremos descobrir junto com esses lados opostos que há muito território em comum.
Battlestar Galactica é uma série de televisão de 1978, mas que foi recriada e lançada em 2003. Esta é a bagagem que ela traz. O que pode parecer uma simples invenção da ficção científica traz reflexões e conhecimentos profundos sobre a natureza humana e do Universo. Afinal, a ficção científica traz canalizações de histórias verdadeiras, mas o paradigma da consciência atual as rotula como histórias fictícias.
Irei trazer mais sobre os questionamentos abordados na série, já que em seu retorno, os cylons possuem corpos biológicos quase idênticos aos dos colonos. Além de emoções, sentimentos e a crença em um Deus único. Mas antes de entrar na narrativa, vamos analisar sua música de abertura, que já demonstra o conceito dessa maravilhosa obra. Temos aqui nada menos que o Gayatri Mantra, considerado o mantra da iluminação.
Os colonos possuem uma mente dualista e agressiva; os cylons trazem um pacote espiritual, mas ainda estão presos em ressentimentos e antigas crenças. Juntos, eles irão descamar camadas e mais camadas de falsas verdades, mesmo em um estado de atrito. Eles caminham para a iluminação. Essa é uma história galáctica, e faz parte da nossa história também.
Trago a indicação de Battlestar Galactica agora porque, após um longo período, ela finalmente voltou para a plataforma de streaming no Brasil, e pode ser acessada pela Amazon Prime.
➡ Assistam na seguinte ordem na Amazon:
Minissérie para TV (2003)
Primeira Temporada (2005)
Segunda Temporada (2006)
Terceira Temporada (2007)
Quarta Temporada (2009)
Existem ainda outros websódios, telefilmes e uma série prequel chamada Caprica, que lida com o desenvolvimento da inteligência artificial que criou ou cylons. Eles não estão disponíveis na plataforma, mas para os interessados, a ordem para assistir pode ser conferida aqui: https://serialcookies.com.br/guia-da-ordem-de-episodios-de-battlestar-galactica/
Essa é uma longa jornada, mas tenham a certeza que é uma que vale a pena! So say we all!
Camila Picheth