O Patrimônio Interior (Inspirada por Lady Rowena) – 24.03.2013

O Patrimônio Interior (Inspirada por Lady Rowena) – 24.03.2013

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Estava um lindo dia de primavera, ainda havia uma brisa
suave do inverno que passara e a chuva da noite deixou um frescor delicioso na
relva e nas flores. As plantas pareciam cantar em agradecimento pela Vida que
estava renascendo no solo, e todo o ar refletia esse júbilo da Vida agradecendo
a si mesma pela Beleza que a é inerente.

Letícia estava sentada de costas para o Sol da manhã, seus
cabelos balançavam com o vento, cobrindo parcialmente o rosto. Um sorriso doce
revelava o contentamento em que ela estava ao ver as formigas se movendo
rapidamente, ao ver a grama crescendo novamente e as flores se abrindo para
receber a luz que vinha do alto. Esse era o deleite de Letícia, sentir a Vida
de Deus em Tudo O Que É e agradecer a Ele por tamanha maravilha.



Ela não podia ver, a Grande Lei achou melhor que ela não
visse, mas naquele momento, ela era a única alma encarnada em sintonia com
Deus. Muitos daquela época que lessem este texto agora poderiam achar tal coisa
um absurdo, mas é bem claro para nós hoje que falar de Deus é diferente que
senti-Lo realmente em tudo que existe. Naquele momento, Letícia, pela sua
sintonia de amor, era a porta aberta dos céus na Terra; uma linda energia
dourada-rosa envolvia seu coração, os animais e as plantas que ela tocava se
enchiam com a mesma energia e vibravam com tamanha sorte de estar ao lado da
humana que trazia a Luz Divina a Terra.

– LETÍCIA!!! LETÍCIA! ONDE ESTÁ VOCÊ, MENINA?

De um supetão, Letícia se levantou, era a voz da irmã dela,
chamando-a para algum trabalho doméstico.

– Sim, Margarida? Estou aqui fora.

– VENHA LOGO LAVAR A LOUÇA DO CAFÉ DA MANHÃ! Nunca vi moça
dessa idade tão desleixada.

A vida de Letícia era um misto entre um êxtase maravilhoso
de sua conexão com o Divino e a baixa autoestima que ela carregava por não
corresponder às expectativas das pessoas que a circundavam. O interessante é
que isso colaborou com seu progresso espiritual, já que ela acabava por desejar
ardentemente a sua conexão com o Divino e ter Dele a paz que ela não encontrava
nas coisas do mundo externo.


Sua irmã, a Margarida, era o oposto de Letícia em termos de
talento e disposição para fazer as coisas, ela era muito elogiada em tudo que fazia,
e isso era o combustível dela, quanto mais fazia, mais queria ser elogiada e
vista, mais queria a atenção das pessoas. Desde pequena ela buscava ser notada
pelos adultos, familiares e professores, para que assim pudesse se sentir
importante e útil. Era uma moça enérgica nos gestos e nas palavras, sempre
analisando a todos com muita atenção. Costumava maltratar Letícia pelo modo “alienado”
que sua irmã vivia, não se conformava como Letícia podia ser tão “burra” e
aparentar ser tão feliz.

– Não aguento mais essa vida de pobre, aquele velho
vigarista podia aparecer, deixa ele aparecer… – disse Margarida enquanto a
Letícia que lavava a louça, cultivando seu costume em lembrar-se do seu triste destino.
Ela e sua irmã eram filhas de um casal que falecera em um acidente de
carruagens, ficando as duas sob a tutela da tia, a Dona Valéria irmã da mãe das
meninas. Os pais de Letícia e Patrícia contavam com uma pequena fortuna que
ficou de herança para elas, porém elas não puderam usufruir dessa benfeitoria
deixada pelos pais, pois o tio delas, esposo de Dona Valéria, poucos meses
depois de estar com o dinheiro das sobrinhas desapareceu e levou tudo o que
podia consigo.

– Nós não somos pobre, Marga, temos a vida, a maior riqueza
de Deus – disse Letícia olhando para o céu pela janela da cozinha.

– Lá vem você com suas filosofias. Quero conhecer esse seu
Deus tão bom, o meu me abandonou na miséria… olha para nossa vida: trabalhar,
trabalhar e trabalhar. Mas eu vou dar um jeito nisso, caso com um homem rico e
nunca mais vou ter dor de cabeça!


Continua no próximo capítulo…
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